segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Amuletos e Talismãs


                                       Amuleto com a imagem de Allan Kardec

Um dia desses, quando fazíamos nossas habituais visitas a sites franceses em busca de informações úteis acerca do Espiritismo, deparamo-nos com alguns curiosos amuletos contendo a imagem de Allan Kardec (a imagem não tem nenhuma semelhança com Allan Kardec, aliás). Um deles, chapeado com ouro 16K, é vendido por 29 euros, e serviria para “proteger e ajudar nas evocações”. Obviamente, todo ser humano tem o direito de crer naquilo que melhor lhe convém; portanto, o objetivo deste artigo não é criticar pessoas cuja liberdade de crença e de expressão respeitamos, mas sim o de mostrar aos espíritas qual foi a posição de Allan Kardec e dos Espíritos acerca do tema amuletos e talismãs.
                                           
Primeiramente, vejamos o que os Espíritos responderam a Allan Kardec na obra inaugural da doutrina espírita, O Livro dos Espíritos:

553 - Qual pode ser o efeito das fórmulas e práticas com que algumas pessoas pretendem dispor da cooperação dos Espíritos?

– É o efeito de torná-las ridículas se forem pessoas de boa-fé. Caso contrário, são patifes que merecem castigo. Todas as fórmulas são enganosas; não há nenhuma palavra sacramental, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porque eles são atraídos somente pelo pensamento e não pelas coisas materiais.

553 a - Alguns Espíritos não têm, às vezes, ditado fórmulas cabalísticas?

– Sim, há Espíritos que indicam sinais, palavras esquisitas ou prescrevem alguns atos com a ajuda dos quais fazeis o que chamais de tramas secretas; mas ficais bem certos: são Espíritos que zombam e abusam de vossa credulidade.

554 - Aquele que, errado ou certo, tem confiança no que chama virtude de um talismã, não pode por essa própria confiança atrair um Espírito, já que é o pensamento que age? O talismã não será apenas um sinal que ajuda a dirigir o pensamento?

– É verdade; mas a natureza do Espírito atraído depende da pureza da intenção e da elevação dos sentimentos; portanto, devemos crer que aquele que é tão simples para acreditar na virtude de um talismã não tenha um objetivo mais material do que moral. Além do mais, em todos os casos, isso indica uma inferioridade e fraqueza de idéias que o expõem aos Espíritos imperfeitos e zombeteiros.


Na Revista Espírita de setembro de 1858, encontramos um caso bastante curioso. O Senhor M... havia comprado uma medalha cabalística que continha, nas duas faces, uma multidão de sinais, tais como “planetas, círculos entrelaçados, um triângulo, palavras ininteligíveis e iniciais em caracteres vulgares; além de outros caracteres bizarros tendo qualquer coisa de árabe, tudo disposto de um modo cabalístico no gênero dos livros de mágicos”.

 Tendo interrogado uma médium sonâmbula a respeito da natureza da medalha, o Sr. M... obteve da médium a resposta de que a medalha “era composta de sete metais, que pertenceram a Cazotte, e tinha um poder particular para atrair os Espíritos e facilitar as evocações. O senhor de Caudenberg, autor de uma relação de comunicações que teve, disse ele, como médium, com a Virgem Maria, disse-lhe que era uma coisa má, própria para atrair os demônios. A senhorita de Guldenstube, médium, irmã do barão de Guldenstube, autor de uma obra sobre a Pneumatografia ou escrita direta, disse-lhe que ela tinha uma virtude magnética e poderia provocar o sonambulismo.”

Não satisfeito com a resposta da médium, o Sr. M... pediu a opinião de Allan Kardec a respeito do tema e obteve do fundador do Espiritismo a seguinte resposta:

"Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento, e não por objetos materiais que não têm nenhum poder sobre eles. Os Espíritos superiores, em todos os tempos, condenaram o emprego de sinais e de formas cabalísticas, e todo Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer, ou que pretenda dar talismãs que aparentem a magia, revela, com isso, sua inferioridade, esteja agindo de boa fé ou por ignorância, em conseqüência de antigos preconceitos terrestres dos quais estejam imbuídos, seja porque queira conscientemente divertir-se com a credulidade, como Espírito zombeteiro. Os sinais cabalísticos, quando não são pura fantasia, são símbolos que lembram as crenças supersticiosas quanto à virtude de certas coisas, como os números, os planetas, e sua concordância com os metais, crenças nascidas nos tempos da ignorância, e que repousam sobre erros manifestos, dos quais a ciência fez justiça mostrando o que eram os pretensos sete planetas, sete metais, etc. A forma mística e ininteligível desses emblemas tinha por objetivo impor ao vulgo ver o maravilhoso naquilo que não compreendia. Quem estudou a natureza dos Espíritos, não pode admitir racionalmente, sobre eles, a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; isso seria renovar as práticas da caldeira dos feiticeiros, de gato preto, de galinha preta e outros feitiços. Não ocorre o mesmo com um objeto magnetizado que, como se sabe, tem o poder de provocar o sonambulismo ou certos fenômenos nervosos sobre a economia; mas, então, a virtude desse objeto reside unicamente no fluido do qual está momentaneamente impregnado e que se transmite, assim, por via mediata, e não em sua forma, em sua cor, nem sobretudo nos sinais com os quais pode estar sobrecarregado.

Um Espírito pode dizer Traçai tal sinal, e a esse sinal reconhecerei que chamais e virei; mas nesse caso o sinal traçado não é senão a expressão do pensamento; é uma evocação traduzida de um modo material; ora, os Espíritos, qualquer que seja sua natureza, não têm necessidade de semelhantes meios para se comunicarem; os Espíritos superiores não os empregam nunca; os Espíritos inferiores podem fazê-lo tendo em vista fascinar a imaginação de pessoas crédulas, que querem ter sob sua dependência. Regra geral: todo Espírito que liga mais importância à forma do que ao fundo é inferior, e não merece nenhuma confiança, ainda mesmo se, de tempo em tempo, disser algumas coisas boas; porque essas boas coisas podem ser um meio de sedução."


Em O Livro dos Médiuns, no item 282, Kardec novamente interrogou os Espíritos acerca do assunto:

17ª Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos conforme pretendem alguns?

"Esta pergunta era escusada (desnecessária), porquanto bem sabes que a matéria nenhuma ação exerce sobre os Espíritos. Fica bem certo de que nunca um bom Espírito aconselhará semelhantes absurdidades. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, jamais existiu, senão, na imaginação das pessoas crédulas."


Ao fazer um estudo sobre os Possessos de Morzine, as causas da obsessão e os meios de combatê-la, na Revista Espírita de dezembro de 1862, o fundador do Espiritismo teve a oportunidade de asseverar:

"Certas pessoas preferem, sem dúvida, uma receita mais fácil para afastar os maus Espíritos: algumas palavras a dizer ou alguns sinais afazer, por exemplo, o que seria mais cômodo do que se corrigir de seus defeitos. Com isso não estamos descontentes, mas não conhecemos nenhum outro procedimento mais eficaz para vencer um inimigo do que ser mais forte do que ele. Quando se está doente, é preciso se resignar a tomar um remédio, por amargo que ele seja; mas também, quando se teve a coragem de beber, como se sente bem, e quanto se é forte! É preciso, pois, se persuadir de que não há, para alcançar esse objetivo, nem palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismãs, nem quaisquer sinais materiais. Os maus Espíritos disso se riem e se alegram freqüentemente em indicarem que sempre têm o cuidado de se dizer infalíveis, para melhor captar a confiança daqueles que querem enganar, porque então estes confiantes na virtude do procedimento, se entregam sem medo."


E no artigo Causas da obsessão e meios de combate V, da Revista Espírita de maio de 1863, Allan Kardec encerra com maestria: "A pureza de coração e de intenção, o amor de Deus e do próximo, eis o melhor talismã, porque lhes tira todo império sobre as nossas almas".

Da leitura que fizemos desses trechos das Obras Básicas e da Revista Espírita, podemos tirar algumas conclusões:

a) Os Espíritos de ordem superior jamais indicam qualquer tipo de formula exterior; logo, somente os Espíritos de ordem inferior indicam tais formulas;
b) Os Espíritos são atraídos somente pelo pensamento; portanto, nenhum talismã, amuleto, palavra sacramental, sinal cabalístico ou qualquer tipo formula exterior poderá exercer qualquer influência sobre eles;
c) Não exercendo nenhuma influência sobre os Espíritos, o uso de objetos materiais é completamente ineficaz para se proteger da má influência dos Espíritos (obsessão) e/ou ajudar nas comunicações espíritas;
d) O amor a Deus e ao próximo, a transformação moral e a boa conduta podem ser considerados os nossos melhores “talismãs”, pois são eles os meios mais eficazes de nos protegermos da influência dos maus Espíritos.

Ver:

2 comentários:

  1. Ola Felipe

    Só um comentário: o tal amuleto retrata alguém mais parecido com Jan Hus do que Kardec... Muito engraçado.

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  2. Ademir,

    Verdade. Nada a ver com Allan Kardec. Não fosse o nome de Kardec na figura, eu jamais iria acertar quem era. O "artista" da obra pisou na bola feio (hehe).

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